quinta-feira, 24 de julho de 2008

FELICIDADES

Acorda menina, já são oito horas da manhã. Coloque uma roupa e vai acompanhar o seu pai até a padaria para comprar algo para o café.
A menina então, a pedido da mãe, se vestiu rapidamente e foi fazer o que lhe foi mandado, e ai dela se demorasse mais um pouco, seu pai não poderia perder a fórmula 1. Naquele ano todos estavam certos que Ayrton se consagraria o campeão, e realmente foi.Todos os domingos eram assim, a mãe cozinhando, o pai sentado no sofá com seu inseparável jornal e a menina lá, na meiguice de seus oito anos de idade, trancada em seu quarto, e sonhando.
A jovenzinha era razão de muita discussão, principalmente entre as mulheres da família. Os tios e o papai, não. Esses ficavam ali num canto, bebendo cerveja e falando de sexo e futebol. Porém, as mulheres iam dando as suas respectivas sugestões. “Essa menina precisa procurar é um médico, porque daquele jeito, Deus me livre, vai vê que é doença e das graves”. Todas diziam que ela tinha que brincar, correr, conversar, assim como a Natália, filha da tia Mafalda, aquela sim menina esperta, viva.
A menina foi crescendo e aos poucos virando uma mulher, linda e inteligente. Havia entrado em medicina com apenas 17 anos numa excelente faculdade do interior de Minas Gerais. Ela continuava sendo assunto incessante na família, mas agora partindo por um viés totalmente diferente. “Menina inteligente essa Sandrinha hein? E a educação então, parece até que foi criada em Paris, moça fina, direita, esperta, simpática. Essa sim vai ser alguém na vida, diferente daquela Natalia, filha da tia Mafalda, aquela se perdeu, arrumou um namoradinho, não sai da casa dele. Deus abençoe pra que nada de mal lhe aconteça”.
Por ser uma moça inteligente e demasiadamente bonita, Sandrinha era cobiçada por vários homens da cidade. Porém, a idéia de ver a filha “presa” a alguém deixava a sua mãe extremamente furiosa, talvez até pelo fato de que o seu próprio casamento não andava muito bem das pernas. “Não vai se enrabichar com homem nenhum cedo assim hein dona Sandra. Filhos? Nem pensar, você é nova, bonita, tem mais é que ser feliz e curtir a vida. Ah, se eu tivesse tido as mesmas chances que você tem agora, nunca teria essa vidinha que levo hoje”.
Passaram-se alguns anos e Sandrinha agora formada, ainda morava na casa de seus pais. Numa de suas escassas aparições noturnas, a jovem encontra um rapaz por quem se apaixona desesperadamente. Os dois começaram a namorar e viver uma paixão arrebatadora. Ele se chamava Ricardo, era três anos mais novo, morava sozinho e o seu sonho era ser arqueólogo. Era, de fato um bom menino, mas mesmo assim a moça tinha muito medo de revelar o seu romance à sua conservadora mãe.
Passado um ano, Sandrinha, envolta num amor cheio de juras e planos, decide contar que estava apaixonada e iria se casar, pois já estava mais do que na hora de seguir o seu próprio caminho. A mãe, desapontada, faz uma cara de choro e decepção, e diz que ela poderia ir, mas se era realmente aquilo o seu desejo, ela não tinha mais família. Sandrinha se comove com aquelas palavras e diz que nunca a abandonará, e assim deixa de lado todos os seus planos, as suas juras e principalmente o seu amor.
No entanto, aquela não era a vida que a jovem queria, e aos 28 anos, tomada de angústia, tristeza e solidão, Sandrinha fugiu de casa. Foi para a cidade grande, conheceu pessoas novas e foi descobrir o sabor do que a sua mãe atribuía a expressão “curtir a vida e ser feliz”. Ela bebeu, se drogou, se prostituiu e parou de exercer a medicina, profissão pela qual tinha muito apreço.
Agora, exatamente nesse momento há quatro pessoas diferentes em quatro cantos distintos do mundo. Sandrinha está em seu kitnet alugado, encolhida num canto, depressiva, drogada e com muito medo...Vê monstros verdes à sua frente. Ricardo está em seu quarto, sozinho, escrevendo um poema de amor. A mãe está na sala apanhando do marido que acaba de chegar bêbado em casa. E Natália, a filha da tia Mafalda, está às gargalhadas fazendo guerra de travesseiros com seu marido e seus dois filhos, gritando repetidamente a mesma frase: Eu sou feliz! Eu sou feliz!

3 comentários:

Camila G. disse...

Nossa Reni...ai pegou pesado...
Cadinha em momento de reflexão bruto!
Mas acho que posso dizer que to sabendo levar a vida sim..já festei mto (sem drogas e com mto juízo!hehe), trabalho, estudo, tenho a melhor família e os melhores amigos, amo loucamente meu namorado (que me ama tb, pelo menos é o que ele me diz tds os dias!hehe) E SOU COMPELTAMENTE FELIZ, com direito a GUERRA DE TRAVEISSEIROS EM CADA MOMENTO DA MINHA VIDA!
PORÉM... sinto uma falta absurda de alguns bons amigos que foram continuar as histórias de suas respectivas vidas em outros cantos do mundo..amigos esses que tiveram papel fundamental em algum instante da minha vida..e que, hj, mesmo distantes, ainda me fazem feliz. Seja por email, por msn, orkut, blog, seja por saber que eles existem e que tb são felizes como eu sou!

Unknown disse...

Ohh meu Deuss....
Mininoo que me da orgulho!
ahauhauahuaha

Concordo em tudo com a Cadinha =D
e dou graças a Deus que minha mãe é super gente boa!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

To rezaando Reni
Too rezandoo !!!!

Saudadesss
=**********

Anônimo disse...
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